Sempre tive o costume de anotar filmes, livros, eventos culturais que vejo, leio, assisto, compareço. No final do ano, transformo essas anotações em retrospectivas aqui no Dufas, seja para registrar e me lembrar, seja pra deixar aí como dicas pra quem se interessar.
Este ano, em vez de anotar em uma agenda ou caderno de papel, como era meu hábito, estou fazendo isso num quadro do Trello (meu vício atual, não vivo sem ele). Não sei se pela facilidade de anotar tudo por conta da onipresença do celular ou se pelo esforço deliberado que venho fazendo para acompanhar menos notícias, o que gerou um tempo livre “extra” no fim de cada dia… fato é que minha lista de vistos e lidos já está gigantesca e mal passamos da metade do ano.
Olhando pra essa lista e pensando na preguiça que eu teria de fazer a mãe de todas as retrospectivas no final do ano, resolvi me antecipar e já soltar uma semi-retrospectiva. Se alguém tiver curiosidade e fôlego pra chegar até o final, me contem nos comentários se gostaram (ou não) de alguma coisa.
Livros
Essa Dama Bate Bué – li em janeiro esse, que recomendei até no nosso podcast. Foi a primeira obra de uma série involuntária de leituras sobre a colonização e seus efeitos. Me transportou para Luanda e eu reconheci muito do meu Rio de Janeiro por lá.
Cachorro Velho – segundo livro dessa minha série pessoal com histórias de quem foi colonizado, e não dos colonizadores. A obra, que ganhou o prêmio Casa de Las Américas, se passa em Cuba, mas o tempo todo eu li pensando num engenho de cana por aqui mesmo. Somos todos resultado dos mesmos sofrimentos.
O Som do Rugido da Onça – para completar essa trilogia involuntária sobre a herança (maldita) colonial, foi a vez da ficção alcançar as histórias de indígenas e nossa relação ancestral com suas culturas, mesmo que a gente esqueça disso tantas vezes.
Viver É Melhor Que Sonhar – mudando de assunto, peguei essa biografia do incrível Belchior, que conta principalmente a vida do artista no período em que ele desapareceu dos holofotes e passou por uma experiência que, se não podemos chamar de loucura, não sei que nome tem.
Meu Muito Querido Pedro – engraçado, acabei de me dar conta que depois das leituras, digamos assim, pós-coloniais, encarei uma pequena série sobre mulheres da realeza. A primeira foi a Imperatriz Leopoldina, cuja história é pouco conhecida por nós brasileiros e foi desvelada nessa pequena pérola da Drops Editora, da nossa querida Fal.
Maria Stuart – a segunda rainha que fui conhecer é conhecida como Mary, Queen of Scots. A biografia, escrita por Stefan Zweig, mostra uma personalidade interessantíssima. Se tivesse nascido homem, Mary seria tipo um Henrique VIII da Escócia, e provavelmente sua vida teria um final bem menos trágico.
Claraboia – um delicado Saramago que permaneceu inédito até a morte do autor.
Meninas – este livro de contos da escritora russa Liudmila Ulítskaia traz um retrato singelo e intenso sobre a infância sob o stalinismo na antiga União Soviética.
Querido Lula – escrevi sobre o livro aqui.
Filmes
Netflix
A Filha Perdida – mais uma história de Elena Ferrante, mais uma mulher atormentada. Ferrante é tipo ame ou odeie. Veja e descubra qual é seu time. Só um aviso: tem Olivia Colman arrasando, como sempre, então, sei lá, acho que a chance de gostar é tipo bem grande.
Imperdoável – um thriller sem grandes pretensões, com mais uma boa atuação da Sandra Bullock.
Axé: canto do povo de um lugar – quem escuta um axé e não tem vontade de sair dançando, desculpe, só pode ser doente do pé. Esse documentário conta a história do gênero mais alto astral da música brasileira.
O Guia da Família Perfeita – essa “dramédia” não vai mudar a vida de ninguém. Mas às vezes a gente só quer passar o tempo assistindo algo sério e divertido ao mesmo tempo, sabe. Gosto dessas surpresinhas despretensiosas da Netflix, especialmente quando vêm de países que a gente não costuma ver no cinemão. Essa é do Canadá.
The House – essa animação stop-motion em três capítulos mostra três histórias possíveis em uma mesma casa, em diferentes épocas. Todas bastante surreais e muito bem contadas.
América Latina para Imbecis – o comediante John Leguizamo só precisa de um quadro-negro e uns pedaços de giz para recontar três mil anos de história do nosso continente.
O Barato de Iacanaga – que Rock in Rio que nada. O festival de música mais incrível deste país aconteceu em uma fazenda no interior de São Paulo, produzido com a cara e a coragem. Esse documentário conta a história do Festival de Águas Claras, o “woodstock brasileiro”.
Contra o Gelo – a editoria “exploradores da natureza” é com a Helê, mas esse filme conta uma história tão incrível que me deixou alguns dias levemente obcecada por essa expedição à Groenlândia (e suas implicações).
Munich e O Soldado Que Nunca Existiu – esses dois são da editoria “nós contra o nazismo”. Para mim, mais interessante que os filmes em guerra propriamente ditos é o fato de que, quase 80 anos depois do fim da II Guerra, ainda existam incontáveis filmes sendo feitos sobre o assunto. Talvez um dia eu escreva um post com meus dois centavos sobre o assunto ;)
Our Father – esse documentário conta a história mais bizarra dessa retrospectiva. É um daqueles casos que, se fosse ficção, a gente diria que é inverossímil; como aconteceu na vida real, só nos resta acreditar.
HBO
Confisco – documentário sobre o inacreditável período da história em que o governo brasileiro achou por bem confiscar o dinheiro de todas as contas bancárias, de pessoas físicas e jurídicas, e só devolver um ano e meio depois, quando o valor tinha virado (quase) pó.
King Richard: criando campeãs – opinião polêmica: onde todo mundo viu um filme sobre uma linda história de superação, eu vi um pai com tendências claramente abusivas empurrando as filhas (Serena e Venus Williams) para uma trajetória obviamente bem sucedida, mas sabe-se lá a que custo. Ou não. O que você achou?
Globoplay
Agente Duplo – indicado ao Oscar de melhor documentário, esse filme chileno borra a fronteira entre o que é real e espontâneo e o que é ensaiado, brinca com a dúvida (será que a narrativa apresenta é honesta mesmo?, a gente pensa o tempo todo), e tudo isso para mostrar que às vezes o vilão da história está bem perto de nós mesmos (talvez até dentro de nós).
Storm Video – mais um documentário, dessa vez sobre aquela que talvez seja a última videolocadora do Rio de Janeiro. Em pleno ano de 2022, a existência da Storm Video parece algo surreal. As instalações parecem cenográficas. O dono parece uma personagem. Mas, até prova em contrário, é tudo verdade.
Eles Não Usam Black-Tie – um dos filmes mais aclamados do cinema brasileiro, e eu nunca tinha assistido. A versão que está na Globoplay foi restaurada digitalmente em 2007 e tem uma qualidade muito boa.
O Lobby do Batom – já escrevi sobre esse filme aqui.
8 presidentes 1 juramento – a dolorida história da redemocratização brasileira é contada através dos presidentes que tivemos. Montanha russa emocional define.
Amazon Prime Video
Coda – poderia ser apenas um belo filme tipo Sessão da Tarde, e de certa forma é, mas levou o Oscar de Melhor Filme em 2022. e, convenhamos, em 2022 tudo o que estamos precisando é de um pouco do clima de sessão da tarde.
Disney+
West Side Story – Steven Spielberg decidiu refilmar um dos maiores clássicos do cinema de todos os tempos. Deu certo? Claro que sim.
No cinema (sim, eu tomei coragem e voltei às salas de projeção, com máscara e tudo)
Medida Provisória – uma distopia de um futuro próximo/alternativo, que é na verdade uma alegoria do tempo presente. Já está na Globoplay.
Amigo Secreto – um documentário que conta os bastidores da Vaza Jato, a aliança entre veículos jornalísticos que denunciou e documentou os abusos cometidos pela operação Lava Jato.
Séries
Netflix
Queer Eye (sempre)
Como se Tornar um Tirano (falei sobre a série aqui)
Grace and Frankie (última temporada)
HBO
The Gilded Age (para os órfãos de Downton Abbey)
Globoplay
Avisa Lá Que Eu Vou (se você tiver que escolher só uma série da lista, escolha essa)
Queer Eye (sempre)
Amazon Prime Video
Em Casa com os Gil (errei, se tiver que escolher só uma série, escolha esta, sem dúvida. Escrevemos sobre ela aqui e aqui)
Em dezembro tem mais (ou não)!
-Monix-
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