Figuras escondidas

Hidden figures pode soar um filme desnecessário, quase um contrassenso em 2017. Por que fazer um filme sobre mulheres negras que desempenharam papel relevante na corrida espacial americana, se daqui a alguns dias um negro se despede da Casa Branca após oito anos de governo, provocando manifestações de saudade antecipada no mundo todo? Por que precisamos lembrar de banheiros, bebedouros, assentos no ônibus e lugares específicos nas bibliotecas para negros se hoje, ao menos nos EUA, o que se discute é a segregação de banheiros por gênero, algo que até pouquíssimo tempo atrás parecia inquestionável? Ainda precisamos de filmes falando de um passado difícil e limitado, em que negras e negros, mesmo brilhantes (ou talvez até por isso) precisavam de artimanhas e subterfúgios para conseguir respeito e reconhecimento que outros conseguiam com menos esforço ou merecimento, ou por outra, faziam o dobro para obter a metade?

Sim, ainda precisamos de filmes como esse, porque ainda há muitas figuras importantes escondidas nos cantos de páginas da história – como Henrietta Lacks, por exemplo. Porque se, em 2017, a América ainda precisa compreender que black lives matter, isso significa que ainda não progrediu o suficiente como sociedade. E se restasse alguma dúvida da importância desse filme ela teria se dissipado quando a amiga que estava conosco, várias décadas mais jovem, espantou-se com o primeiro coloured space que apareceu na tela. Não que ela não soubesse (ela é apenas jovem, não desinformada). Mas o impacto da cena, provocado por essa capacidade única do cinema, de colocar você dentro da ação, esse impacto dificilmente pode ser obtido apenas com a leitura. Precisamos contar essas histórias porque, como Mr. Obama disse em seu discurso de despedida, “a raça continua a ser uma força poderosa e divisiva em nossa sociedade” e não podemos take for granted os direitos conquistados. Precisamos continuar falando sobre preconceito e discriminação porque a falta de empatia entre as mulheres grita no filme e ainda hoje encontra eco na sociedade. Precisamos porque sim – ainda precisamos.

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O trio de amigas tratado no filme faz parte da elite científica mundial – trabalhar na NASA nunca foi para qualquer um. E mesmo assim, diante de um carro enguiçado e com a aproximação de um policial (branco, obviamente, estamos na Virgínia segregada dos anos 1960), elas temem. Temem porque sabem que devem temer (como ainda hoje, pelo menos aqui no Brasil, negros temem quando policiais dão a “dura” no ônibus). Quer dizer, estamos falando de um filme sobre racismo, sim, mas não sobre o racismo dos excluídos. São mentes brilhantes, pessoas capazes de pôr um homem (*um homem, note-se, e não um ser humano genérico*) na Lua, mas que por sofrerem com um duplo handicap precisam provar todos os dias que são capazes de dignas da confiança nelas depositada.

Por outro lado, o que a NASA quer é ganhar a corrida espacial. E os engenheiros brancos e homens que comandam a agência sabem que não podem abrir mão de nenhum talento por conta de coisas menores, como o preconceito de toda uma sociedade, ora essa. Então, em nome dos resultados, criam-se as salas dedicadas a mulheres brancas e a mulheres negras (no filme não fica claro se há um espaço para homens negros fazerem cálculos).

Surpreende também, pouco mais de meio século depois da época em que se passa a história, nos darmos conta de que não só havia vida inteligente antes do computador como basicamente todos os cálculos feitos pela equipe da NASA até John Glenn entrar em órbita foram feitos manualmente. Calcular a velocidade de lançamento, o ângulo de reentrada, as resistências dos materiais e outros desafios tão complexos quanto esses era a tarefa desse grupo de mulheres excepcionais. Esse toque tecnológico deixa o filme com um ar meio “Histórias Cruzadas encontra Os Eleitos“.

Em que pese o nome ruim – tanto no original quanto em português – e uma narrativa linear e quadrada, sem sofisticação ou inventividade, Hidden Figures/Estrelas Além do Tempo merece ser visto. Do ponto de vista apenas cinematográfico é bem arroz com feijão – mas isso é o que dá sustança, dizem as avós. Filmes como esse consolidam na memória coletiva os imensos sacrifícios aos quais a população negra foi submetida – não na longínqua época da escravidão, mas ali na esquina da História, 50 anos atrás. Sobretudo no Brasil, onde um eficiente sistema racista ainda mantém a esmagadora maioria da população negra distante dos locais sociais de excelência – e nem foi preciso segregar espaços.

Duas Fridas

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Dicas

*No teatro, A farsa da boa preguiça. Tá certo que Suassuna é meio caminho andado pra uma boa peça, mas o resto do caminho é belamente percorrido por um eleco afinado e inspirado, com uma preparação corporal muitobem feita e uma encenação criativa. Excelente pedida.

*No dvd, Eu, meu irmão e a nossa namorada. Mais um caso em que o título em português joga contra o patrimônio (no original, “Dan in real life”). Não se deixe enganar, é um filme despretensioso mas divertido, uma comédia bem feita que não ofende sua inteligência e nos lembra, a nós pais,  a aprender com nossos filhos. E tem uma fala maravilhosa, dita por um menino de 13 anos:

“Love is not a feeling, it’s an abillity”

Acho que são as duas coisas e que, tristemente,  muitas vezes  abunda o sentimento e falta a habilidade.

Helê

Uma idéia

Neste fim de semana vi um filme muito bom e bem feito, “Mar adentro“, com o Javier Bardem. Achei que fosse me acabar de chorar com a história do tetraplégico que decide morrer, mas o diretor Alejandro Amenábar conseguiu fugir do dramalhão. Com a mesma maestria com que Bardem construiu um personagem com o qual o público simpatiza não pelo pelo óbvio (ou não apenas), mas sobretudo por sua inteligência, humor e personalidade complexa.

Mas o que digo não deve ter muita serventia, visto que eu devo ter sido das últimas pessoas a assistir este filme, lançado em 2004. Cito-o pela idéia que ele me inspirou e que, por falta de tempo e incentivo fi$cal eu não posso colocar em prática, mas ofereço aqui a quem interessar (se a sócia quiser a preferencial é dela, heim? Mas o Rosebud também pode se interessar…).

Terminada a película (tão charmosa essa palavra, não?) eu corri pra Grande Rede pra saber mais da história de Ramón Sampedro, tentando descobrir o que de fato aconteceu e o que foi licença “poético-cinematográfica”. E pensei num site – ou blogue – que fizesse isso: confrontasse as histórias reais e as adapatações do cinema, que personagens correspondem a que pessoas, quais os enxertos criados (em geral para dar ritmo à narrativa); o que ficou de fora, e até mesmo o que aconteceu a um ou outro pesonagem após o periodo retratado no fime. No filme em questão, por exemplo, soube que a amiga de Sampedro, Ramona Monteiro (a Rosa do filme), admtiu que o ajudou a morrer – sete anos depois, quando o crime prescreveu.

Certamente que a tarefa seria mais espinhosa do que parece à primeira vista – sabe-se que, em geral, as “histórias reais” têm muitas versões. E estamos falando de mais de um século de adaptações para a tela grande. Mas seria bacana poder recorrer a um site que reunisse essas informações caçadas Google afora. Quem se habilita ou me contrata?  ;-)

Helê

PS: Depois de feito o post me dei conta de que talvez isso já exista, talvez em inglês. Porque na internet vale a máxima do meu amigo M. Bittencourt: “Não há o que não haja”. Se alguém souber, me desculpe e me avise.

PS2: Eu já falei antes sobre a internet como um grande “posfácio virtual”. Se interessar eu “reposto” aqui.

PS3 e chega: Em minhas buscas, achei essa brilhante entrevista de Javier Bardem.

11 Filmes Musicais (e +2)

Todos Dizem Eu Te Amo

Chicago

Dançando no Escuro

Sete Noivas para Sete Irmãos

De-Lovely

My Fair Lady

A Noviça Rebelde

Hair

Mudança de Hábito

Across the Universe

Mamma Mia!

E eu que pensava que não gostava de musicais! Sério. Durante boa parte da minha vida achava o gênero desinteressante, e, por que não dizer: cafona. Pronto, falei. Mas como já disse o filósofo Lulu Santos, nós somos medo e desejo. Se bem que isso não tem muito a ver com o que eu estava dizendo, mas tudo bem. Enfim, o caso é que aos poucos os musicais foram entrando na minha vida cinematográfica e acabaram se sentando confortavelmente e ficando até o final dos créditos. 

“Todos Dizem Eu Te Amo” talvez tenha sido o primeiro de que gostei oficialmente, afinal veio com a chancela do Woody Allen. Aliás, só mesmo ele para misturar sarcasmo e cenas bailantes à margem do rio Sena. Depois vieram outros, como “E Aí, Meu Irmão, Cadê Você?“, dos irmãos Coen, e “Moulin Rouge“, do Baz Luhrmann, de que gosto muito, mas não a ponto de incluir na lista. Aos poucos, fui quebrando minha resistência com o gênero e finalmente resolvi assumir que gosto mesmo, e daí? :-)

Até porque, uma pessoa que teve a adolescência embalada pelo Hair do Milos Forman já devia desconfiar disso.

Depois vieram os musicais, como direi, paradoxais? Incongruentes? Uma coisa assim meio Casseta e Planeta no Teatro Ipanema cantando “eu tô tristão / tô sofrendo pra car*lho”? Pois. São os musicais que falam de temas barra pesada, tipo “Chicago”, que embora tenha como protagonistas duas assassinas aguardando julgamento, é divertidíssimo; e “Dançando no Escuro”, do Lars Von Trier, que de divertido não tem nada, mas é filmado com uma técnica genial (uma dentre as muitas do diretor mais criativo da atualidade). Esse último foi o único filme que me fez sair do cinema ainda chorando. É tristíssimo, mas eu recomendo.

Houve também a fase de recuperar o tempo perdido, quando assisti (ou revi) os clássicos da era de ouro de Hollywwod, como o indefectível “Sete Noivas para Sete Irmãos”, com seu clima de rapto das Sabinas,  o fundamental “A Noviça Rebelde” – aquele que se pode rever tantas vezes quantas a oportunidade se apresentar – e o mais belo de todos, “My Fair Lady”, com a indescritível Audrey Hepburn e o respeitável Rex Harrison reinventando Pigmaleão.

Na trilha dos musicais cômicos, meus favoritos são “Mudança de Hábito”, com a Whoopy Goldberg em um dos pontos altos de sua carreira, e o recente “Mamma Mia!”, que já tinha visto no teatro, na montagem londrina, e que me divertiu muitíssimo na versão para o cinema. Seu grande mérito é ser tão divertido para a platéia quanto para o elenco.

“De-Lovely” é Cole Porter na tela, e não preciso dizer mais nada. “Across the Universe”, como já disse a sócia, não é só para os fãs dos Beatles. Mas quem conhece e curte o quarteto de Liverpool vai se deliciar com as referências visuais e de roteiro, além de perceber que a trama evolui tal qual a banda: primeiro a fase iê-iê-iê, que 45 anos depois é  mais que comportada (chega a soar ingênua), depois o desbunde e a psicodelia.

-Monix-

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Filmes de estrada

Só depois de ver ‘Na natureza selvagem’ eu me dei conta do quanto gosto deste tipo de filme, que envolve viagem, estrada, mapas e rotas. As metáforas são um tanto óbvias, mas nem por isso menos sedutoras. E por uma dessas misteriosas conjunções que alguns chamam coincidência, “deparei-me” com um livro maravihoso dia deses, chamado “O conto da ilha desconhecida”, do José Saramago, que recolocou o tema “viagem” na pauta da minha cabeça. Mas sobre o livro e as viagens falo noutro momento; vamos à breve seleção que fiz dos meus road movies favoritos e algumas lacunas:

Telma e Louise

Pra mim,  o filme, em muitos aspectos. Sobretudo no tocante à questão de gênero. Fez cair fichas, acionou inúmeras sinapses no meu cérebro. Vez em quando eu preciso rever, pra prender uns post-its existenciais que desgrudam com o passar do tempo. De quebra ainda tem a bunda do Brad Pitt…

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Somente elas (Boys on the side)

Outro grande filme na categoria “filmes mulherzonas” – que eu acabei de inventar, em contraponto ao que se convencionou chamar de “filme mulherzinha”. O elenco todo muito afiado e afinado, mas a Whoopi merece menção especial.

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Na natureza selvagem (Into Wild) 

Porque, no fundo, todas as grandes viagens são sempre “into”. (Sobre esse filme eu já falei aqui)

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Pequena Miss Sunshine

Sobre ele eu falei no endereço antigo. Comovente. Além disso, pra mim, tem um efeito acolhedor, eu me sinto parte daquela família na cena mais preciosa do filme. E falando em matáforas, o que é família, senão uma kombi velha que só pega no tranco, que vc tem que correr pra embarcar mas nunca sai sem você?

Deus é brasileiro

Wagner Moura ainda não havia me seduzido com aquele charme macho do comercial da Marisa, mas já havia me colocado no bolso com toda a sua morotice macunaímica. E mesmo o Fagundes fez um Deus convincente, sem ser ele mesmo, de novo. Um road movie brasileiro, o que é increditavelmente raro, num país tão generoso em locações (sim, é caro, ou deve ser, mas é também um desperdicio não fazer mais, né não?).

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Quase famosos

Um daqueles que eu vi depois de todo mundo, então fiquei com vergonha da minha paixão atrasada. Mas um filme em que uma irmã deixa para o irmão mais novo uma mala de LPs com o bilhete “Isto vai te libertar” tem que estar em qualquer lista minha!

Priscila Rainha do Deserto

Um clássico da viadagem – esse estado de espírito exuberante, melancólico e generoso que nos habita. E espero que sempre em mim abunde –  porque eu não esqueço que a primeira tradução para gay é alegre.

 

Falhas imperdoáveis na minha filmografia: Diários de motocicleta e Easy rider (esse eu li o livro, no periódo Jurássico). Aceito outras sugestões. E discordâncias, comentários…

Frida Helê

7 Filmes Assustadores

À Meia Luz

O Que Terá Acontecido a Baby Jane?

Com a Maldade na Alma

Cabo do Medo

Disque M para Matar

O Silêncio do Lago

Bem me Quer Mal me Quer

Pelo teor desta lista, já deu para notar que terror psicológico me apavora muto mais que sustos, gritos, violência, sangue e vísceras espalhados pelo chão. ‘À Meia Luz’ explora o medo de enlouquecer, um fantasma que assombra qualquer ser humano dono de sua razão, numa interpretação magistral de Charles Boyer. Bette Davis também faz jus à alcunha, atribuída a ela por muitos, de melhor atriz de todos os tempos, em ‘Baby Jane’ e ‘Com a Maldade na Alma’. No primeiro deles, sua parceria brilhante com Joan Crawford culmina numa das mais fortes cenas finais que já assisti, com uma reviravolta realmente inesperada (não me venham falar em ‘Sexto Sentido’: décadas antes de Shyamalan o cinema já tinha produzido uma trama muito mais surpreendente, tornando obrigatório assistir ao filme a segunda vez). O segundo, ‘Com a Maldade na Alma’, foi produzido na esteira de seu sucesso, conforme descobri pesquisando para escrever este post. Só lembro que assisti-lo foi tão perturbador que pela segunda vez na vida tive vontade de desistir no meio de um filme. A primeira vez que isso aconteceu foi em ‘Cabo do Medo’, um filme que une os talentos de Robert De Niro e Martin Scorcese com o único propósito de nos apavorar – um daqueles que nos deixa com medo de andar na rua depois de sair do cinema. O chamado “mestre do suspense” não pode ficar de fora de uma lista como esta. É difícil escolher, mas como meus critérios são puramente pessoais e explicitamente subjetivos, selecionei aquele que me provocou mais emoções. Talvez porque ‘Disque M’ tenha sido o único HItchcock que assisti no cinema, com todo o benefício da sala escura e da tela grande. Já ‘O Silêncio do Lago’ não precisou de nada além da própria trama para me deixar sem dormir por várias noites. Não vou explicar o motivo para não estragar o suspense, mas o final do filme (bastante amenizado na versão americana, que assisti em vídeo há uns 15 anos) é simplesmente o pior pesadelo de qualquer ser vivo.  Outro filme que literalmente me tirou o sono foi ‘Bem me Quer…’, que peguei na locadora enganada por uma capa que indicava se tratar de uma comédia romântica. A presença de Audrey Tatou no papel principal e o início quase água-com-açúcar completaram a ilusão, e parecia que minha noite de domingo se encerraria com um filminho bastante inocente. No entanto, quando a verdadeira história se revelou, perdi a chance de dormir tranqüilamente – em compensação, ganhei a experiência de assistir a um filmaço, digno de figurar em qualquer antologia que se preze.

-Monix-

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7 Filmes Muito Engraçados

O Bagunceiro Arrumadinho

Avanti! Amantes à Italiana

Tomara que Seja Mulher

1941

Um Peixe Chamado Wanda

O Balconista (1 e 2)

A Gaiola das Loucas

Jerry Lewis sempre me faz rir, de um jeito ingênuo e não muito sutil, mas por isso mesmo delicioso. O ‘Bagunceiro’ abre a lista por trazer de volta as gargalhadas que dei com meus irmãos e meu pai assistindo à cena da maca que cai da ambulância. Meu deus particular do cinema, Billy Wilder, também não poderia ficar de fora. O diretor transita com igual competência por quase todos os gêneros cinematográficos (as exceções talvez sejam o faroeste e o terror), e dessa vez ele se excedeu em seu dom de fazer comédia com timing perfeito. Jack Lemmon vem de brinde. E já que estamos na Itália, é preciso incluir Mario Monicelli nesta lista seleta. Trata-se de um dos melhores diretores de comédia de todos os tempos, sem dúvida. É difícil escolher apenas um filme. Fico com o menos cotado ‘Tomara que Seja Mulher’, que conta com um elenco espetacular liderado por Liv Ullman e Catherine Deneuve, duas deusas do cinema. A cena final é digna de figurar em qualquer antologia que se preze. Infelizmente, assisti a esse filme há quase 20 anos e já não lembro de muita coisa. Adoraria revê-lo, mas não consegui encontrar nem na Amazon. Os dois próximos filmes, ‘1941’ e ‘Um Peixe Chamado Wanda’ também foram vistos há muito mais tempo do que eu gostaria de admitir (a idade aparece é nessas pequenas coisas, vocês sabem), e portanto me lembro mais das gargalhadas que dei que dos motivos que me fizeram gargalhar. O primeiro é um Spielberg totalmente fora de contexto, com John Belushi em plena forma e cenas de pastelão delirante. Provavelmente não me faria rir hoje, mas aos 9 anos de idade a gente consegue se liberar do senso crítico com facilidade e apenas se divertir. Acho que foi a primeira vez que perdi o fôlego gargalhando no cinema – o que voltaria a acontecer anos depois, assistindo às trapalhadas de John Cleese e Kevin Kline. As duas versões de ‘O Balconista’ são o melhor de Kevin Smith, que certamente é o humorista mais inteligente de sua geração. Por fim, não poderia completar uma lista de filmes muito engraçados sem citar ‘A Gaiola das Loucas’, que só pela cena do jantar já vale mais do que uma tonelada de tolices dos irmãos Farelli.

-Monix-

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O Homem de Ferro abusou da nossa boa vontade (contém spoiler)

Um milionário da indústria de armas, que além de tudo é um gênio da tecnologia, constrói uma armadura feita de uma liga de metais nobres, embute armas e foguetes, propulsores ou seja lá como se chama aquilo, e sai por aí combatendo o mal. Até aí, tudo bem. Mas precisava se esborrachar todo no momento de testar seu traje novo, e sair ileso, sem um hematoma?

Pois é.  Nós assistimos O Homem de Ferro. Assistimos a também a dezenas (ou seriam centenas?) de filmes, desenhos animados, seriados e outros produtos da cultura de massa em que heróis, monstros, vilões, mortos-vivos e outros bichos fazem e acontecem, mas sempre tem um momento em que a gente chega ao limite e diz: mas peraí, se o sapato dele estava desamarrado, como é que ele conseguiu correr sem tropeçar?

O conceito de suspension of disbelief, que poderia ser traduzido toscamente como ‘suspensão da descrença’, foi cunhado pelo poeta e filósofo Samuel Coleridge, em 1817, numa tentativa de definir a relação do público com a arte. Muito antes, portanto, do Superman chegar de Krypton numa nave e ser criado por um casal de simpáticos rancheiros texanos. Segundo esta teoria estética, o espectador se dispõe a aceitar como legítimas as premissas de determinada obra de arte, por mais inverossímeis que pareçam. O público faz “vista grossa” para as impossibilidades apresentadas, contanto que elas não entrem em conflito com as premissas inicialmente “negociadas”. Ou seja, tudo bem que o Superman voe, mas não dá para engolir que só porque ele pôs os óculos a Lois Lane não vai reconhecê-lo! Isso também já é demais!

***

Bom, voltando ao Homem de Ferro:  quem for assistir, não deve sair do cinema antes do final dos créditos. E final é fim MESMO. Há uma cena imperdível tanto para os fãs do personagem quanto para fãs de outra pessoa.

(A partir daqui começa o spoiler, quem não quiser saber do que trata a cena pode ir direto pros comentários)

Ao voltar para casa, depois da última coletiva para a imprensa, Tony Stark fica conhecendo Nick Fury, um big shot da S.H.I.E.L.D., deixando aberto o gancho para um filme sobre Os Vingadores. Quem interpreta o personagem é o maravilhoso Samuel L. Jackson. Nossas fontes no universo nerd nos informaram que originalmente Nick Fury era um personagem branco; no entanto, em uma recriação dos heróis Marvel (Universo Marvel Millenium), Fury reaparece como negro – e os desenhos foram inspirados em ninguém menos que o próprio Samuel L. Jackson. Bacana, não?

As Fridas de Ferro

Alguém chegou aqui buscando filmes sobre aborto. Espero que volte, porque de cabeça me ocorrem três ótimas sugestões:

Regras da Vida
Ruth em Questão
O Segredo de Vera Drake

Update das leitoras: O Preço de Uma Escolha

-Monix-

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