Quando era adolescente personalizava minhas agendas e fichários com recortes e papel contact. Tinha pastas com imagens, frases e palavras que retirava de revistas e jornais. Pastas que viraram hoje meus quadros no pinterest. Também adole eu tinha um caderninho de frases, acho que chamávamos de Caderno de Pensamentos. Conselhos, reflexões e até piadas – que seguem agrupados em álbuns do facebook ou contas no tumbrl. Ainda naquele distante período geológico da minha vida, a adolescência, eu entrei para um pen club em que escrevi e recebi cartas de desconhecidos do mundo todo que, como eu, não se contentavam com os amigos próximos: queriam saber de quem sambe diferente noutras terras, outras gentes. Bem, hoje eu ainda tenho um blogue, dez anos depois de ser cool, entre outras razões para falar com gente que de outro modo não encontraria.
Isso tudo pra dizer que eu acho que a internet serviu para digitalizar (e agilizar) as besteiras e hábitos que a gente já cultivava há mil anos. Inventamos uma nova maneira de fazer o que já fazíamos: eu já era uma pinner antes do termo existir, já queria ter amigos do outro lado do oceano antes de cruzá-lo, sempre quis inventar layouts e avatares antes de saber que poderia. Claro que a internet itself influencia e modifica ações e intenções, e isso deve ser considerado o tempo todo. Criar a capa de um caderno que vai ser vista na minha turma tem impacto e repercussão diferentes do que fazer um post que pode ser visto por 400 assim chamados amigos, inclusive porque entre eles 350 estão postando outras coisas no mesmo momento. Mas talvez precisemos pensar menos no que a internet fez conosco, no que faríamos sem ela e mais no que já fazíamos antes dela existir. Pode ser surpreendente e pode ajudar a ter uma relação mais saudável com o mundo digital, tão sedutor quanto ameaçador.
(Ou isso ou eu sempre fui mesmo mais integrada que apocalípica – private joke pra quem fez Comunicação no final dos anos 80, acho que nem ensinam mais isso na faculdade de jornalismo (eu sou do tempo do diploma, abafa) ).
Helê
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