Uma morte a lamentar, como se deve fazer com os bons, sobretudo com os melhores. Mas a partida de Mister B.B. King me dá vontade de celebrar sua vida ouvindo muito blues e tomando o melhor uísque que encontrar. Com a morte dele consigo ser budista, reagir serena e conformada. Porque, afinal, o cara meteu o pé com 89 anos anos, fez show até anteontem; passou a perna na morte por um bom tempo – ela que já lhe fungava o cangote com descortesias como um diabetes. Quer dizer, o cara viveu, em bold e com todas as vogais da palavra – e mais uns riffs entre uma letra e outra. Atravessou décadas, gêneros, artistas, modismos e permaneceu. Eu adoro “Riding with the king”, título, capa e conceito. Uma sacada genial e invejável do Clapton – quem entre nós não gostaria de fazer uma viagem com um ídolo?
Mas admito que só consigo pensar dessa forma zen porque ele não era um ídolo meu, ou por outra, não era próximo. Não tenho um disco dele, não fui a show, não chorei minhas mágoas nem pitangas ao som de seus acordes. Não tinha relação como a que estabeleci, por exemplo, com a Amy ou com o Tim, pelos quais sofri e chorei a perda como se conhecidos fossem. Envelhecer é ir se acostumando com a morte. A morte de alguém que viveu tanto e bem, se não lhe é especial, você aceita, concede (ainda que seja um gênio). Para os meus eu não tenho budismo possível – não nesta encarnação.
Helê
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