Ah, as palavras. Algumas são o que são – ou são para o que nascem, como diz o maravilhoso título daquele filme. ‘Saliência’, por exemplo. Precisa dizer mais? Não, já se sabe do que se trata. Esse era um dos sinônimos pra sexo na minha casa quando eu era menina; suspeitava que era algo vedado a nós, crianças, mas que era bom, divertido, e transgressor. E não estava de todo errada, não é mesmo?
*
Sexo, saliência, sacanagem, safadeza: por que tanto ‘s’, meu deus? Será a sinuidade da letra, o som do fonema, ou só coincidência?
*
E ‘lúbrica’? Outra palavra que se explica por si. Ou, dizendo mais adequadamente, se desmancha por si só, porque só de ouvi-la eu deslizo. Aliás, pensando bem, tem outro grupo de palavras sacanas com ‘l’: luxúria, lascívia, libertino… Será novamente o fonema, o movimento da língua nos dentes… ou só eu delirando mesmo?
*
Falando nisso, tem a cuíca. Eu gosto do som, acho que dá um tempero saboroso ao samba, mas não posso prestar muita atenção. Começa a me dar certa aflição. Você já percebeu? Tem coisa mais safada e sugestiva que o som da cuíca? Aí um amigo que toca se pôs a me explicar a dinâmica da coisa, como se pega o couro, de que modo se tira o grave e o agudo… Nossa, piorou muito, quanto mais ele falava, mais eu pensava em sacanagem.
Helê
Filed under: Bobagens meu filho bobagens | Tagged: palavras | 5 Comments »