Dia desses eu descobri essa série, África 360°, e fiquei levemente obcecada, vi quase toda num fim de semana.
Antes, porém, preciso dizer que a descoberta foi um acaso total, porque o programa é exibido pelo Canal Off, que eu nunca assisto por muito tempo. O Off é uma espécie de distopia, um universo paralelo onde as pessoas nunca trabalham, não votam, não se preocupam com a previdência. Estão sempre em lugares incríveis que a gente não sabe direito onde é, fazendo um esporte que não entendemos bem como funciona, e faz sol o ano todo, até nas montanhas mais geladas. Poderia funcionar como um alívio da realidade, mas depois de um tempo eu começo a me incomodar com aquela gente esmagadoramente branca e aparentemente rica que parece não ter outra razão de viver a não ser se divertir. Aí, o que era relax vira raiva e mudo de canal.
Mas África 360º foge desse roteiro, a começar pelo local em que se passa e também pela proposta, que é percorrer todo o litoral do continente africano. Captaram minha atenção por isso, e fui ficando, assistindo um episódio atrás do outro, porque o surfe (que eu gosto mas não domino) é apenas um pretexto para a viagem. Os irmãos argentinos Joaquin e Julian Azulay a se interessam pelas culturas com as quais têm contato, se mostram abertos e respeitosos com as oportunidades de conhecer melhor as cidades por onde passam e os povos que visitam. Viajando num caminhão alemão reformado e equipado por eles, que serve de veículo e casa, eles encontram personagens interessantes e procuram oferecer, em legendas breves, informações básicas sobre os países e locais que visitam.



Fiquei um pouco irritada pensando no privilégio macho – uma viagem dessas feita por quatro mulheres é praticamente inviável por questões de segurança, pela ameaça de um tipo de violência específico ao qual só nós estamos sujeitas. Mas a indignação não é com eles, e sim com o mundo patriarcal e machista em que vivemos.
O projeto ainda não está completo, nesta primeira temporada eles chegaram até a Costa do Marfim. Mas vale apena conferir para conhecer a África realmente sob uma perspectiva incomum, sem o foco nos problemas e conflitos, um continente diverso, surpreendente, com personagens incríveis. E locações espetaculares. Dignas de Canal Off.
(Ah, e a trilha sonora é um bônus .)
Helê
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