Chi-chi, le-le

Com interesse e banda larga, hoje em dia a gente pode conhecer boa parte do mundo, acompanhar o que acontece em lugares que nunca fomos ou iremos, mas que capturam nossa atenção – ainda que apenas na duração de tuíte. Por isso, estabelecemos com as cidades que efetivamente visitamos uma relação diferente, mais próxima; nunca mais ouvimos seu nome no noticiário da mesma maneira.

Digo isso pra explicar por que meu coração aperta a cada notícia que chega do Chile, especialmente de Santiago, que nos recebeu muito bem (a mim e à Fifi) e da qual guardamos amorosas lembranças de nuestra primeira viagem internacional. O Chile distante e mítico de Allendes (de Salvador e Isabel) tornou-se um pouco nosso também, depois de quatro dias e muitas caminhadas. Neste outubro de 2019 não faltam convulsões sociais em diferentes escalas, próximas ou distantes: Líbano, Equador, Catalunha, Bolívia. Mas o Chile captura o maior pedaço da minha atenção.

Como a maioria das pessoas da minha bolha (esquerdista/abortista/feminista/gayzista/graças à deusa), acho potente e inspirador que a população esteja saindo às ruas para questionar um sistema que vem sendo exportado como positivo sem que se esclareça para quem. Mas temo pela cidade, pelas pessoas, pela truculência dos carabineiros e das forças armadas – cuja presença na vida cotidiana da cidade me pareceu demasiada quando estive por lá.

Foto de Susana Hidalgo. A bandeira no topo representa os Mapuche, chilenos antes de existir o Chile. Manifestação de 25/10, que reuniu mais de um milhão de pessoas, a maior desde o fim da ditadura.

Tenho ouvido muitos discos, conversado com pessoas…não, péra, isso é música do Belchior. Tenho ouvido podcasts*, lido artigos e procurado informações no tuíter de gente que vive lá, para tentar compreender o que tá coteseno. Se vivemos um tempo em que os movimentos sociais são ou estão difusos, sem liderança e voláteis, também não basta se informar apenas pelos meios de sempre. Até porque, para a chamada grande imprensa, a maior surpresa é que haja revolta popular diante de indicadores econômicos tão positivos, mas ninguém faz o óbvio: questionar esses indicadores.

Sigo acompanhando por aqui, torcendo pelo melhor, ou seja: que a luta resulte em mudanças reais, especialmente para todas as periferias: econômicas, sociais e políticas . E que a memória do povo chileno seja ingrediente indispensável na construção de um futuro melhor.

Memorial no Estádio Nacional, em Santiago do Chile

Helê

*Um dos meus pods preferidos atualmente é o Muito mais que futebol, cujo teor é absolutamente fiel ao título; vale a pena. Aceito outras indicações :-) 

 

Flamenguista

(Daqui)

Da série Corações

Helê

PS: VAMO FLAMENGO!