Atento e forte

(incluirei a autoria assim que descobrir Cristiano Siqueira @crisvector; via Cláudio Luiz)

Helê

PS: Obrigada, Manu, que me ajudou a achar o autor.

 

Eterno retorno

2019, gente. E ainda tem homem que não sai com mulher que tem filho? Sério?! Que desânimo, viu. Aí a gente entende porque chegamos nesse ponto e elegemos isso que taí…

Foi Lord Cláudio Luiz quem nos pautou, mostrando matéria publicada no Uol sobre gente que não sai com quem tem filhos. Eles tentaram falar assim, nesses termos igualitários, mas desde o título o enfoque recai sobre quem? Claro, as mulheres sendo preteridas por terem filhos e “como encarar melhor essa rejeição que é bem comum…” Será que a gente não faria melhor desencorajando essa rejeição? Ou tentando saber se o inverso acontece, se os homens também são preteridos por serem pais? Não seria melhor falar sobre isso que publicar notícia que naturaliza preconceitos? (Na minha [estéril] experiência em aplicativos de paquera, com frequência os homens posam com filhos ou sobrinhos, parece que ‘pega bem’ no mercado amoroso. Mas suspeito que o mesmo não se dá nos perfis femininos, digam aí os rapazes usuários desses apps )

Depois que até o papa ensinou o óbvio, que “mãe não é estado civil”, achei que a nossa campanha poderia ser arquivada para sempre, mas pelo jeito não. Foi no longínquo 2005 – portanto, fucking catorze anos atrás! -, que aderimos à campanha “Namore uma mãe solteira”, que tinha, claro, algo de humor e muito de verdade (e sabe-se, à boca pequena, que funcionou bem para umas e outras…). No universo paralelo que ora vivemos, onde quanto mais se caminha menos se avança, retiramos do baú as razões pelas quais namorar uma mulher com filho(s) é muito interessante:

Campanha Namore uma Mãe Solteira

1) Nós não temos pressa de casar, porque já temos filho
2) Nós não temos pressa de ter filho, porque já temos filho
3) Nós não temos tempo de grudar no seu pé, porque já temos filho
4) Se você quiser ter um filho, tudo bem, porque já temos filho
5) Se você não quiser ter filho, tudo bem também, porque nós já temos filho

Helê

Salve São Sebastião


Saint Sebastian Healed by Angels,
Pieter Paul Rubens 

Brasil
Tira as flechas do peito do meu Padroeiro
Que São Sebastião do Rio de Janeiro
Ainda pode se salvar

Saudades da Guanabara, Moacyr Luz

Helê

Agoniza mas não morre

Assisti “Spotlight – segredos revelados” na Netflix, sobre o escândalo de padres católicos pedófilos em Boston. Bem filmado, com ótimas interpretações, conta uma história importante sem aquelas bobagens roiludianas de inventar romance e drama onde não existe. Quando o filme terminou fiquei pensando no papel do jornalismo e em como não podemos prescindir dele – que, não por acaso, já foi escolhido como inimigo do atual governo.

À parte minhas angústias pessoais, “Spotlight” reafirma que o jornalismo pode ir mal das pernas, mas sempre haverá espaço para a investigação criteriosa,  redação bem feita, supervisão e orientação editorial responsável e divulgação de material de verdadeira utilidade pública. E há várias iniciativas sérias do chamado jornalismo independente à disposição em diferentes plataformas e formatos – YouTube, podcasts, newsletters e sites. Gratuitos, dependentes de assinaturas e financiamento coletivos ou híbridos, essas frentes merecem cada vem mais nossa atenção, apoio e incentivo. Creio que não conseguiremos resultados diferentes utilizando os mesmos caminhos, como já ensinou vovô Einstein.

Acompanho a produção do Intercept, do canal Meio e do Nexo, que estou considerando assinar. Também ouvi falar bem da Apublica, mas conheço pouco. E vocês, o que acompanham ou sugerem? 

Helê

 

Histórias de presépios

Na tradição das nossas famílias hoje, Dia de Reis, é quando guardamos todas as decorações natalinas, árvore, guirlandas, sinos e presépios. Daí o mote para fecharmos o tema natalino, antes que a Leader avise que já é natal de novo.

A história da Helê

Eu sou a que tem sentimentos dúbios e oscilantes sobre o natal, a que gosta da tradição mas recusa a imposição. A que não gosta de peru nem de passas em comidas salgadas, mas ama rabanadas com fervor. A que oscila entre curtir e não ligar. Então quando La Otra me chamou para um pré-natal pensei: “Não basta um, ainda teremos pré?” Mas fui atraída pelo convite criativo (“uma festa para se preparar para as festas”) e pelo descompromisso: chegar sem hora certa, levar o que quisesse (ou não levar), participar ou não de uma troca de presentes que nem precisavam ser novos, enfim: um natal sem pressão me atraiu e animou minha filha (que precisa de quase nada pra se animar, verdade seja dita).

Foi uma noite muito agradável, em que pudemos conversar sem pressa, nos assustar com o crescimento dos filhos alheios, comer coisas maravilhosas preparadas pela Monix numa mesa linda (que teve também contribuições igualmente deliciosas, como um cheesecake memorável). Tudo leve como deveriam ser as festas familiares e similares. Já na despedida, elogiei o presépio e disse à sócia que é das coisas de natal que eu realmente gosto, muito mais que da árvore e dos pisca-pisca coloridos exagerados. A cena reproduzida, os personagens, figurinos e o propósito de nos lembrar para que, afinal, estamos reunidos, tudo isso me agrada nos presépios – embora eu mesma não tenha um, comentei de passagem. E Monix imediatamente reagiu ao comentário oferecendo o empréstimo de um dos cinco (!) que ela possui, cada um com sua história. Aceitei e levei para casa aquele que foi o primeiro de sua casa de adulta, feito de barro e com tipos bem brasileiros; seguindo os preceitos da família dela, só coloquei o menino Jesus na manjedoura no dia 25. Suspeito que esse empréstimo seja o início de uma tradição, além da afirmação dos nossos laços de partilha e pertencimento. Afinal, é disso que se trata o natal, não?

O presépio da Monix, que foi passar o Natal na casa da Helê

A história da Monix

Das coisas que gosto no Natal – e são muitas -, minha preferida são os presépios.

Minhas lembranças natalinas da infância são boas, o que provavelmente é um grande mérito da minha mãe, pois depois que cheguei à idade adulta me dei conta de que, desde sempre, as tretas reinaram nas festas da minha família*.

Mas, para mim, Natal era a alegria de montar uma árvore bonita, de comer uma ceia deliciosa (eu já fui magra, mas nunca não fui gulosa), e de admirar os lindos presépios que havia nas várias casas onde eu passava as festas. Uma tia do meu pai fazia uma gruta com papel-pedra. Lembro perfeitamente até hoje. O presépio da minha avó materna era (é) lindo – foi a herança do meu sobrinho, e hoje é um dos tais cinco presépios do “acervo” aqui de casa.

O presépio da vovó, que agora é a peça mais importante da nossa decoração natalina.

(Na verdade agora são quatro – um deles foi doado para uma família de refugiados venezuelanos.)

Uma das coisas que lamento na minha vida adulta é que não consegui transpor esse “espírito natalino” para meu filho. Há muitos, muitos anos não faço uma festa de Natal, nem aprontava uma decoração bonita na casa. Mas dos presépios, nunca abri mão.

Esse que foi passar o Natal com a Helê foi o primeiro que comprei, logo quando casei, em 1995. Quando se aproximou o mês de dezembro, lembro que liguei para minha avó e perguntei: “onde eu posso comprar um presépio?”. Eu nunca tinha pensado nisso, até então.

Vovó sabia das coisas, e respondeu na hora: “No Apostolado Litúrgico“. Eu nunca tinha ouvido falar nesse lugar! Mas era pertinho do meu trabalho. Dei uma passada lá, no horário de almoço, e bem na vitrine tinha esse de cerâmica, tão lindo, com um jeitinho tão brasileiro, completamente diferente do que havia na casa dela. Mas muito com a cara que eu estava dando para a minha casa.

É um presépio que eu adoro, até hoje. Há alguns anos ele tem sido preterido por outros, por motivos vários, e fiquei tão feliz por ele ter ganhado um lugar de honra na casa da minha sócia. Afinal, nada pode significar melhor “partilhar o espírito de Natal”… do que compartilhar um presépio.

* Nesse Natal de 2018, diante de tantas agruras que vivemos ao longo do ano, e de tantas outras que nos aguardam a seguir, decidi resgatar essa alegria natalina, das luzes coloridas, das bolas douradas, das músicas que só tocam nessa época. E, principalmente, resgatar os afetos. Minha família de origem é enorme, mas hoje está dispersa pelo mundo. Com a família próxima – pai e irmãos – eu celebro no dia 25. Com a família escolhida – namorido, cunhada, sobrinhos, sogro e sogra, primas – passo o dia 24. E de repente me dei conta que uma parte muito importante do que eu considero família, meus amigos mais chegados, estava longe de mim no Natal. Por isso tive a ideia de fazer essa festa que chamei de “Abraço Pré-Natal”, e que tem tudo para ser tornar mais uma das nossas tradições recentes.

Abecedário 2018

Aprendi ontem com meu cientista favorito que o mês de Janeiro deve seu nome ao deus romano Janus, responsável pelas transições, passagens, mudanças, términos e começos. Por isso sua representação olha ao mesmo tempo para o passado e para o futuro. Então, sob as bençãos de Janus, faço aqui a retrospectiva do ano que terminou ontem, ainda buscando inspiração e força para viver com esperança o ano que começou hoje.

 Helê