8h30 da manhã. O vagão do Metrô, vazio. As mulheres se acomodam nos bancos laterais, e ainda assim sobram lugares. O meio do vagão permanece completamente desocupado.
Alguns homens distraídos entram no vagão e o segurança do Metrô informa: tem que sair, neste horário o carro é exclusivo para as mulheres.
Um deles está visivelmente irritado. Alto. Mais de 50, menos de 60 anos. Atravessa o vagão, contrariado, e bate a cabeça na alça que pende do teto da composição. O trem é novo, modelo moderno, por isso ele consegue mudar de vagão sem precisar sair para a plataforma.
As portas se fecham, e dez segundos depois o homem está de volta. Senta-se em um dos muitos bancos vazios, de braços cruzados e cara fechada. Nenhuma das mulheres parece se importar muito.
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Essa historinha verídica, que aconteceu ontem de manhã, ilustra bem o desconforto causado por uma lei estadual absurda, como já foi muito bem explicado aqui pela Helê.
O carro das mulheres faria sentido, se é que poderia fazer algum, em um metrô superlotado, com vagões separados, cenário em que abusos podem ocorrer – e ainda ocorrem, muito, sem que ninguém fique sabendo, sem que os agressores sejam punidos, sem que as vítimas sejam ouvidas.
Mas em um trem completamente vazio, em que os vagões se comunicam internamente, qual é o sentido de se manter o confinamento das mulheres em um vagão exclusivo? Se não tinha cabimento antes, agora menos ainda.
O segurança do Metrô está apenas fiscalizando o cumprimento de uma lei. Não vejo nada de errado nisso. Errada está a lei, que foi criada sob falsas premissas e portanto obviamente apresenta uma solução completamente equivocada.
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O que nos leva à questão da representação feminina na política. Precisamos de mulheres legislando sobre as questões que impactam outras mulheres. Não basta ter uma presidenta, é preciso ter bancadas femininas representativas. Não adianta ter parlamentares bem intencionados, ou veremos eternamente os tiros saindo pela culatra: ao invés de conscientizar os agressores e protegermos as vítimas, teremos sempre, somente, cada vez mais, homens emburrados porque são impedidos de entrar em um vagão – sem que nenhuma lógica sustente essa proibição.
-Monix-
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