Sentimos que nunca acaba de caber mais dor no coração
mas não choramos à toa
Arnaldo Antunes
Este blogue sempre fez questão de não esquecer de Cláudia, uma das incontáveis vítimas da Polícia Militar do Rio de Janeiro, arrastada por vários metros caída de um camburão onde nem deveria estar. Este crime completa hoje sete anos, com os indiciados ainda aguardando julgamento, todos em liberdade. Um deles quase foi nomeado superintendente de combate a crimes ambientais do estado do Rio. A divulgação do fato na imprensa e a imediata reação de entidades feministas fez com que a a secretaria voltasse atrás e desistisse da nomeação.
O marido de Claudia, os quatro filhos e os sobrinhos que ela também cuidava.
Como eu disse, não quero esquecer de Cláudia e de sua morte pavorosa em todos os aspectos na esperança desesperançada de que a justiça seja feita. Nos últimos anos, esse crime acabou ofuscado em meio à revolta pelo assassinato brutal de Marielle Franco, em 14 de março de 2018. De lá pra cá, nesta semana de março as atenções se voltam para homenagear a vereadora abatida numa via pública da cidade e para cobrar as razões e mandantes dessa selvageria.
Assim nós vivemos aqui no purgatório da beleza e do caos: acumulando perdas, colecionando dores. Cláudia, Amarildo, os rapazes de Costa Barros, Marielle, Eduardo, Ágata, Evaldo dos Santos, Emily e Rebeca. Uma dor vai dando um passinho para o lado para caber outra, e seguimos empilhando corpos e tragédias, acumulando camadas de injustiça e impunidade.
É sobre essa violência basilar cotidiana que se soma a violência governamental genocida que, atleticamente, quebra recordes mortais todos os dias.
Helê
Atualizado em 18/3 (eu sabia que faltava um final, que só veio na newsletter de ontem).
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