Fazia um dia horroroso no sábado no Rio, cinza chumbo, sem chuva – pelo menos isso. Dias que em geral me seguram em casa, lamentando o sol e carpindo o verão, mas um compromisso pela manhã me empurrou para fora. Uma vez na rua, decidi dar uma olhada na exposição “A Terra Vista do Céu”, no Centro, que tem assessoria da empresa em que trabalho.

Trabalhador descansando sobre o algodão colhido na Costa do Marfim
Que as fotos são excepcionais eu já sabia, mas confirmei o que havia deduzido: que a instalação ali na Cinelândia, bem no coração cultural e político do Rio, rende outras fotos fantásticas, pela diversidade de pessoas, reações e comentários que provoca. Sem falar do cenário: prédios antigos e majestosos como a Biblioteca Nacional, o Theatro Municipal, e outros. Tudo isso junto dá a impressão de que você também está dentro de uma foto que poderia se chamar “A Terra vista do Céu Vista da Cinelândia”. E me fez lembrar das bolinhas da Praça Paris e da nossa mal aproveitada vocação para eventos ao ar livre.


No caminho da exposição da Terra está o Centro Cultural da Justiça Federal, com a exposição “Simplesmente Doisneau”, também assessorada pela Belém Com, que eu queria ver já há tempos. Certamente eu voltarei à Cinelândia, possivelmente com filhote; então aproveitei a decantada liberalidade francesa e troquei Bertrand por Doisneau. Foi uma mudança interessantíssima, sair do mundo para Paris e Gentily, como quando a gente vai se aproximando do macro para o micro no Google Maps. Do calor cinzento da rua para o escurinho refrigerado; dos grandes painéis para fotos que precisam ser vistas de perto, envoltas em passe-partout; do alarido da calçada para a intimidade do edifício.


Algumas fotos a gente conhece, em outras tantas a gente se reconhece ou se projeta, não importa: o fotógrafo ilusionista consegue fazer com que você ali, no Rio de Janeiro em pleno século 21, se identifique com operários, crianças e namorados de arredores de Paris nos anos 1940 sem dificuldade alguma. São fotos belas, divertidas, comoventes, íntimas, provocantes. Um programa realmente imperdível: vá sem pressa e assista ao filme, que contextualiza alguns personagens e confirma um bom humor de Doisneau que antevemos em algumas imagens.

Meu beijo favorito, dos muitos que ele fotografou
Para quem vier à cidade, e sobretudo para nós moradores (cada vez mais apressados e menos cariocas), fica a dica dessas duas exposições, essas duas diferentes formas de olhar, mostrar e fruir, ambas enriquecedoras e prazerosas.
Helê
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