
CE aprova projeto que inscreve nome de João Cândido no livro Heróis e Heroínas da Pátria
Talvez por ser, como já disse aqui, neta de marinheiros negros, talvez por ter conhecido essa história muito cedo por um dos meios que mais e melhor me formou, a música brasileira, a história de João Cândido me comove profundamente. Sinto-me impressionada com sua força e inconformada com a perseguição que até hoje, mais de um século depois, ele ainda sofre. Soube pelo twitter hoje de manhã sobre essa votação no Senado, e também sobre a posição abjeta da Marinha. Incapaz de impedir novamente a votação (já havia manobrado pelo adiamento anteirormente), enviou uma nota técnica tão pífia e desconexa quanto desculpa de jogador de vôlei homofóbico. Classifica a Revolta da Chibata como um “acontecimento triste” em que todos os envolvidos “tiveram omissões”, o que não justifica “exaltar ações de revoltosos”. Perderam uma excelente chance de ficarem calados, como apontou a dra. Rita Cristina, autora de um bem escrito artigo e também do tuíte que chamou minha atenção para o assunto (obrigada!).

Chocante que as forças armadas (assim mesmo, em minúsculas, que é o que fazem por merecer) sempre foram ao longo da história brasileira uma possibilidade de emprego dígno para a massa pobre e preta da população, vistas com respeito e admiração e, no entanto, as corporações têm por esses mesmos estratos sociais o desprezo das “elites”. A história de João Candido não temina com o fim da Revolta – a BBC Brasil tem uma extensa matéria sobre o Almirante, que foi traído, caçado, preso e atormentado, num comportamento aviltante para uma insitutição que se pretende zelosa dos mais altos valores da nação (Malditos Milicos!®) Perseguido até o fim da vida, até na sua morte, até ontem, quando a Marinha se deu ao trabalho de contestar um reconhecimento já estabelecido há muito tempo na sociedade, à revelia de sua opinião: João Cândido, o Almirante Negro, é um herói do Brasil. O Senado Federal só fez legitimar o que Aldir Blanc e João Bosco eternizaram em canção, e que encontra ressonância aqui no meu DNA negro e marítimo.
Glória a todas as lutas inglórias que através da nossa história não esquecemos jamais!
Helê
PS Portantíssimo: Ainda na editoria relações raciais no Brasil, o STF decidiu ontem (28/10/21) , que o crime de injúria racial se equipara ao racismo e, por isso, é imprescritível, ou seja, pode ser punível a qualquer tempo. Ou seja: Fogo nos racistas forever, sem prescrição!
®vinheta do Medo e Delírio em Brasília
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