Partiu 2011!

Essa gíria carioca tem uma lógica toda própria, como sói acontecer em dialetos. Talvez o mais razoável, o esperado seria você dizer de onde saímos, e não pra onde vamos. Mas nós não:  sintetizamos a informação, suprimindo a origem, declarando a ação e o mais importante,  apontando o destino. Assim, dizemos: “Partiu praia!”  avisando que estamos saindo para praia, e quem quiser vir que nos acompanhe, sem se importar muito com o local que deixamos.

Então é isso, gente, 2010 já deu. Tenha sido bom ou péssimo, passou, passou. Vamos lá fazer desse um grande ano, estar atentos às oportunidades, ‘bora tomar as rédeas da nossa vida, pedir proteção aos céus ou o que quer que possa nos guiar e iluminar, ter foco, tesão e coragem, e nos divertir, porque mesmo que a você  não tenha vindo a passeio (nós viemos!), se não for leve, aos menos aqui e ali, não vale a pena.

Um ano novo e bom pra todos nós !

Helê

Querido diário:

Hoje eu literalmente ganhei meu dia com um telefonema. Um amigo com quem não falava há meses, que não vejo há anos, fez um interurbano e made my day. Não contou nenhuma novidade bombástica, tão pouco eu tinha notícias palpitantes para oferecer. Fizemos o que fazem os amigos: falamos dos nossos, rimos, nos sacaneamos, dividimos receios, fizemos planos; restabelecemos a conexão como se nunca tivesse sido interrompida. Nunca foi, e constatar isso dá uma alegria, uma leveza! Bom, pelo menos comigo foi assim – espero que tenha sido bom pra você também, Zé.


Helê

Fofos

Ontem tinha uma mulherada no twitter – capitaneadas pela Frida Helê – chamando o Alex de fofo. A reação foi imediata:

De fato, nada mais brochante que um homem “fofo”.  Mas então que adjetivo usar para definir os caras bacanas de nosso tempo? Sim, porque muitos homens com quem convivemos não se encaixam no estreótipo do machão-ogro que reinou durante séculos.

O século XX nos deixou heranças muito importantes, sendo uma das principais a revolução nos papéis tradicionais de feminino e masculino. Ao mesmo tempo que as mulheres conquistam o espaço público, os homens estão lutando para ocupar o espaço privado, que por sua vez também lhes era negado. (O blog Manual do Pai Solteiro, por exemplo, nos mostra uma história de um deles .)

A Helê sempre diz que se comove quando os meninos cometem diarices, como nós. Quando escrevem sobre suas angústias, dúvidas e emoções e nos permitem ver um pouco como eles são quando não estamos por perto. E é verdade: embora um homem “fofo” esteja longe de despertar nossos, digamos, instintos mais básicos, vê-los construir essa nova identidade sem abrir mão da energia masculina é muito emocionante – e também pode ser intenso.

O Gustavo tem falado bastante sobre essa nova energia masculina, no blog e na Cabana da revista Papo de Homem. Assim como ele, muitos outros devem estar pensando sobre esses novos papéis. A maioria apenas vive. E nós temos o privilégio de conviver com eles.

-Monix-

Para ler ouvindo Garotos, aqueles que usam ‘qualquer truque contra a emoção’, e pensando nos garotos do futuro.

De folga

Helê

Pensando em natal, religião, rituais

…resgatei esse trecho daquele que é o meu livro sagrado, aquele que reli muitas vezes, mas jamais terminarei;  meu I Ching brasileiro, minha bíblia severina, meu alcorão agreste, minha Torá  sertaneja; rio do qual nunca saí, que me traga e sustenta, o “Grande sertão, veredas”:

Eu cá, não perco ocasião de religião. Aproveito de todas. Bebo água de todo rio… Uma só, para mim é pouca, talvez não me chegue. Rezo cristão, católico, embrenho a certo; e aceito as preces de compadre meu Quelemém, doutrina dele, de Cardéque. Mas, quando posso, vou no Mindubim, onde um Matias é crente, metodista: a gente se acusa de pecador, lê alto a Bíblia, e ora, cantando hinos belos deles. Tudo me quieta, me suspende. Qualquer sombrinha me refresca. Mas é só muito provisório.”

Guimarães Rosa

Helê

Feliz Natal!

Que a correria de dezembro não seja motivo para esquecermos do verdadeiro motivo da festa: estamos comemorando um momento único na história da humanidade, em que a pureza de uma criança venceu os reis e suas riquezas.

Não importa se você acredita ou não; o fato de 2 milênios depois todos pararmos por alguns momentos e recordarmos esta cena é um símbolo de que, por mais loucos que sejam os tempos, a humanidade continua com seus quereres nos lugares certos.

Por isso, queridos leitores, sejam vocês católicos, evangélicos, espíritas, umbandistas, judeus, muçulmanos, agnósticos, ateus ou tudo isso misturado, o que desejamos de coração é que vocês tenham um FELIZ NATAL!

Uma noite com Yemanjá

Eu sou a carioca menos praiana que existe.

Até gosto de praia, mas não a ponto de frequentar.

Aí eu fui à Bahia em 2009 2008 e, em uma visita ao Terreiro de São Jorge, soube que sou filha de Oxossi e Yemanjá. E o espanto inicial foi substituído pela compreensão de que na verdade não é que eu não goste de praia: o que me incomoda é a praia cheia, o barulho dos vendedores de mate e picolé, a falta de espaço para andar na areia e para mergulhar no mar; enfim, meu desagrado é com os profanadores, com os “vendilhões no templo”. Depois que entendi isso, minha relação com a praia passou a fazer mais sentido.

Hoje pela primeira vez fiz um programa óbvio para a maioria dos cariocas mais descolados que eu, mas que para mim foi uma novidade incrível: aproveitei o finalzinho das férias e fui para a praia, com meu filho, o amiguinho e a mãe, às cinco e meia da tarde. Já chegamos com o sol mais fraco e as areias do Arpoador quase vazias. À medida que escurecia, fomos nos tornando os donos daquele pedacinho de praia.

E foi então que eu tive minha experiência mística. Mergulhei no mar à noite, pela primeira vez, e foi como uma epifania. Difícil foi me convencer de que já estava na hora de ir embora – saímos de lá depois das nove da noite, com as crianças cansadas e famintas.

Para completar a noite, despontou no céu de Copacabana a lua mais linda que se possa imaginar.

Só quando cheguei em casa, depois da pizza, quase à meia-noite, me dei conta de que passei o solstício de verão mergulhando no mar. Não sei bem o que isso significa, mas com certeza é sinal de boa coisa.

-Monix-

Não consegui descobrir a origem da imagem, se alguém souber quem é o autor fique à vontade para deixar um comentário que eu dou o crédito.

Alô, povão, agora é sério!

Então é isso: o verão carioca, insolente como ele só, já chegou.  O maçarico tá ligado, nenhuma mísera nuvenzinha no céu, mil coisas acontecendo na cidade, várias desculpas para beber. Num movimento migratório típico, já estão em solo carioca diversos visitantes e muitos exilados saudosos e sedentos – conto por alto uns três queridos presentes na cidade hoje, entre eles a Musa do G.R.B.C. Me chama que eu vou. A constatação definitiva de que desprezamos o solstício e mudamos de estação é que amanhã acontece na Lapa o primeiro grito do Carnaval 2011. Os Parasitas Garbosos já confirmaram presença e a aliança com o Me Chama.

O Estandarte do Sanatório Geral vai passar.

E não digam que eu não avisei ;-).

 

Helê

Parem as máquinas!

(Dar esse grito é o sonho de todo jornalista…do século passado, of claro).

Por favor, inaugurem suas agendas de 2011 anotando o compromisso abaixo, a estreia teatral do texto de Your Highness, Fal Azevedo:

Todos os detalhes no Minúsculos assassinatos e alguns copos de leite.

 

Clássicos

Esbarrei sem querer em um post do blog da Estante Virtual que me deu aquela vontade descarada de copiar. Como eu resisto a tudo, menos às tentações, estou a me apropriar da ideia, que consiste em perguntar aos leitores:

Quais são os seus clássicos?

Lá eles restringiram a pergunta à literatura, mas aqui amplio a questão para a música e o cinema. O conceito utilizado é o de Ítalo Calvino:

“Um clássico é um livro [disco, filme] que nunca acaba de dizer o que tem para dizer”

Achei absolutamente adequada essa definição, que se encaixa perfeitamente na minha classificação – que não revelarei por ora. Invertendo o fluxo natural do blogue, fico à espera das respostas de vocês antes de explicitar as minhas (ou as nossas, se a Sócia topar a enquete).

Pense com calma, como o querido aí de baixo.

Helê