Time (is on my side)

Antes de viajar mas já despressurizando da maçante rotina do trabalho, eu disse a uma amiga que o bom das férias é que o tempo volta para nós, seus verdadeiros donos, e então podemos  fazer dele o que quisermos. Eu corri a semana inteira ao invés de quatro dias, tomei café com uma amiga que vejo diariamente  mas cujo apartamento não conhecia; acordei mais tarde, vi bobagens na tevê e fiz muito nada, uma necessidade sempre adiada por outras menos agradáveis e mais impositivas.

Aí eu viajei pra Nova York, voo solo, dez dias para saborear a maçã. Para cuidar de mim mesma numa cidade desconhecida numa língua estrangeira eu estudo muito: leio mapas, devoro guias, consulto blogues, mando e-mail aos amigos pedindo dicas, vejo filmes. Portanto, ao chegar tinha anotações e clareza do que queria ver –  mas não tinha um roteiro. Nunca consegui fazer um com mais de 12 horas de antecedência. E mesmo esses tinham boa folga, margem ampla para adaptações. Decidia na noite anterior ou de manhã cedo, de acordo com meu feeling, algo que vi na rua, a previsão do tempo, uma canção ouvida no ipod. Senti mesmo que havia em algum lugar do meu cérebro – ou da alma – uma resistência firme a fechar uma agenda, como se fosse preciso deixar um espaço para o acaso, as serendipidades, como me disse a Lucia  Malla nas dicas dela; para aquilo que, afinal, não pode ser mesmo controlado – “o que não tem medida nem nunca terá”, diria o Chico.

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Brooklin Bridge num sábado glorioso em que eu andei feito um camelo, mas um camelo feliz.

 

Assim, eu encontrei o Blue Note sem querer enquanto passeava pela Washington Square, cruzei com um micro desfile de homens de quilt e gaita de fole em plena ponte do Brooklin (!), peguei uma visita guiada na Biblioteca Pública que tinha acabado de começar, entrei no Jardim Botânico no horário em que a entrada é gratuita; assisti a um culto Batista no Harlem no dia do aniversário da Congregação; encontrei sem procurar um castelo no Central Park . E cruzei com Eric Dane de manhã cedo na 6ª Avenida, na minha primeira corrida em NY (Mark Sloan não morreu!). Para citar alguns acasos, apenas.

 

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Eu besta com os lilases do Botanic Garden.

 

Então revi minha observação inicial e concluí que as férias são um período encantado em que o tempo  volta a pertencer ao seu verdadeiro dono: ele mesmo. É quando solto as rédeas do que nunca esteve mesmo no meu controle,  aceito que a vida aconteça e se apresente, e me posiciono de modo a recebê-la da melhor maneira, acomodando o porvir, recebendo o presente como é, dádiva e inteireza. Atenta aos instintos, aos sinais, equilibrando alguma tensão, necessária para me salvaguardar, e a leveza adequada para fluir com e como o tempo.

Helê

10 Respostas

  1. Muito amor por esse post, Helê!!! Viajar assim, pra descansar do tempo e dos rigores do espaço – não tem preço. :)

    (E obrigada pela menção, honrosíssima sempre por aqui.)

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  2. Helê, tão bom viajar nos seus pensamentos!

    Seja sempre bem-vinda, Si!
    Beijo e obrigada!
    Helê

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  3. Fico feliz em ver quem que viaja a NY sem se a preocupação de encher as malas de compras…. em compensação traz na volta uma bagagem que nem um mastercard pode pagar…..férias encantadas, coração leve….
    Que venham muitas mais !!!

    Para todos nós, Isaura! Obrigada pelo carinho.
    Beijoca,
    Helê

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  4. Adorei esse post, é tão a Helena que conheci, dona de seu tempo, super senhora da direção certa a seguir (e eu sempre perdida) mesmo no improviso. Saudade ;)

    Ah, a gente tentando se achar em Saint Germain!E se achando no Pompi!Saudade XL.
    Beijoca estalada,
    Helê

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  5. vc conseguiu colocar em palavras exatamente o que sinto qdo viajo… seu tempo,suas vontades. E como me disseram uma vez: dinheiro com viagem é o melhor gasto, pois o q se compra ninguém, nunca, poderá tirar de vc… riqueza para alma e para o espírito para a vida toda :-)

    É um bem muito valioso, você sabe bem, né, Pri?
    Obrigada pelo comentário, precisamos nos ver!
    beijoca,
    Helê

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  6. uau.
    não sei se a Renata que comentou é a que eu conheço, mas minha taurinice tb, muitas vezes, rumina muito o tempo.
    vou soltar as rédeas.
    eheheheheheh

    Eu apoio, Clau ;-) E a Re do comentário é a Cunha.
    Beijinhos,
    H.

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  7. coisa linda, hermana! Tempo Rei is on your side, yes it is!

    Fica ao nosso lado quando a gente colabora, né, hermana?;-)
    Beijoca!
    H.

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  8. Eu perdi a concentração no Eric Dane. Peraí que eu vou reler o post. =p

    Hahahahahahahahahaha!Também quase perdia passada!
    Obrigada por comentar; volte sempre – a casa é nossa.
    Aquele Abraço,
    Helê

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  9. Que lindo, Helê. Minha taurinice, entre outras coisas mais, teme voos assim. Mas admiro e muito.

    Obrigada pelo carinho, querida.
    Beijoca,
    H.

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  10. Que percepção maravilhosa do tempo. Necessária e madura. Tranquila e suficiente. Tenho sentido igual e o que basta, primordialmente, é ter essa percepção sem pressão alguma! Bravo, Heleninha! Estamos virando vinho de altíssima qualidade, modéstia às bagas!!

    Obrigada, querido! O pulo do gato agora é perpetuar este estado para além das férias.
    Beijo enorme,
    Helê

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