Sobre redes

Ontem reproduzi no meu perfil do Face uma brincadeira que vi na página de uma amiga:

A proposta é fazer um pequeno teste para ver quem lê as mensagens quando elas não possuem fotos. Portanto, se você está lendo esta mensagem, faça um comentário utilizando uma única palavra sobre como nos conhecemos. Uma única palavra… por favor. Em seguida, copie esta mensagem para o teu mural para que eu possa deixar uma palavra, ok?

Naturalmente, a maioria dos meus “amigos do Face” – essa categoria pra lá de permissiva e imprecisa – fez referência à internet como origem da relação, o que fez do ‘Mothern’ e do ‘Duas Fridas’ campeões de citações (e correlatos como ‘blog’ ou ‘Jabámail’, a newsletter do Dufas). Talvez em segundo lugar estejam os locais de trabalho ou estudo: UERJ, Koinonia, Pentágono (e digo talvez porque me recusei fazer uma tabulação séria, que aí perdia a graça). Quer dizer,  à pergunta “como?” grande parte das pessoas respondeu “onde”: em lugares físicos (teve até berço!), virtuais ou afetivos (família, bloco de carnaval). Houve os que responderam de maneira dinâmica, com uma ação: me conheceram correndo, lendo, rindo (que surpresa). Outros sintetizaram o encontro, pessoal ou digital, evocando outras pessoas – e me vêm à mente a idéia tanto da ciranda quanto de constelações.

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(Encontrado em blog.timesunion.com)

Não faltaram lembranças de manifestações culturais  – futebol, carnaval, samba (eu sou um clichê carioca, gente). Evidentemente não havia resposta melhor que outra; cada escolha é governada por forças diferentes, mais ou menos explícitas. Gostei de todas e também aproveitei para lembrar o momento em que conheci aquela pessoa, comparar a resposta dela com a minha, concordando ou me surpreendendo.

A princípio, a nano amostragem parece confirmar a premissa de que os textos simples têm apelo menor: obtive 69 respostas de um universo de 494 pessoas, pouco mais de 13%, se não me falha a matemática (a minha, ao contrário da fé, costuma faiá).  Embora poucos em relação ao total possível, os comentários superam em muito os likes, o que foge à regra.  Explica-se, em parte, porque o leitor atende a instruções claras e curtas como a que foi dada (apenas uma palavra). Notei ainda que responderam algumas pessoas que quase nunca comentam, no meu perfil ou no Facebook em geral. Talvez porque o pedido era para relembrar o início de uma amizade ou encontro, algo da ordem do afeto e a nostalgia, que têm apelo inconteste nas redes sociais.

Claro que não há precisão científica nesse teste, nem mesmo sei a origem e não planejei escrever sobre isso. Quis apenas, a partir de uma brincadeira, fazer outra, um exercício analítico sem compromisso para pensar sobre redes e seu funcionamento (penso melhor escrevendo. E falando).  Um campo da comunicação demasiadamente novo, fluido, difícil de auferir, isolar. Marcas e corporações buscam avidamente estabelecer parâmetros e regras para converter pessoas em fãs e fãs em consumidores, mas nada está firmado sobre bases suficientemente sólidas. Ainda é possível e preciso experimentar muito, ouvir bastante, correr riscos.

Helê