Pastilhas* da copa

Estava achando todo mundo desanimado, mas me lembrando que achei isso em outras copas do mundo e na hora H apareceram as decorações, camisas, bandeiras. Até que minha filha me disse que não vai ter Alzirão. Se você não está ligando o nome à pessoa, essa é a mais antiga festa de rua organizada para acompanhar as copas no Rio de Janeiro, uma tradição de 78 anos. Então eu tive certeza que os preparativos e a animação para esta copa atingiram os níveis mais baixos, seja pela crise econômica ou pelas sequelas do 7×1.

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Além disso, embora pareça ter acontecido há 50 anos, a última copa foi aqui, né, aquele clima de festa, invasão de argentinos na Lapa, alemães assistindo jogo com a gente no Alzirão, Podolski parça postando no Instagram em português. Depois disso, e com a humilhante eliminação do Brasil, fica difícil se empolgar. Mesmo 50 anos depois.

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Vendo o último amistoso da seleção eu me perguntei se o bom futebol apresentado pode reverter esse quadro. Não creio: o vexame é ainda muito recente, há remanescentes atuando e estamos todos muito desconfiados – pra não dizer putos. Não por acaso, o mascote é o canarinho pistola.

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Fora a associação da camisa verdeamarela com a massa acéfala que nos trouxe a esse 2018 desesperançado e desesperador.

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Rodrigo Lasmar é médico da seleção. Que é, como deduziram os leitores da minha idade, filho de Neylor Lasmar, que foi médico da seleção em copas passadas. A CBF é a uma capitania hereditária, não é mesmo? (E a medicina também).

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Brasil x Áustria foi o primeiro jogo do Brasil que assisti desde aquela vergonha patética. Preciso aprender o nome dos jogadores, a copa tá aí nos calcanhares, e eu não posso perder os memes!

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Assisti a entrevista do Tite e percebi que estava gostando. Muito. Aí me dei conta do motivo: falta a arrogância, a empáfia e a deselegância de Dungas, Zagalos, Scolaris e quetais. Taí uma evolução gigantesca e bem-vinda.

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As viúvas da Itália (70% das mulheres que conheço) ficaram chorando a não-classificação dos bambinos. Eu quase perdi o sono com a lesão Salah – que, graças à Alá, está se recuperando.

#objetificaçãoagentevêporaqui.

 

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Enquanto a copa não chega, só há uma alternativa: segue o líder.

Helê

*Pastilhas porque, como até Pelé sabe, Drops só da Fal.

6 Respostas

  1. Tenho, literalmente, uma dúzia de copas nas costas. Não tenho mais de uma dúzia porque em 1966 estava ocupado demais com chupetas, mamadeiras e babadores para prestar atenção no Portugal de Eusébio covardemente perseguindo e finalmente quebrando as pernas de Pelé e transferindo o sonho do tri para 1970. À exceção de 1990, quando disfarçadamente vibrei com o gol de Caniggia contra o Brasil de Lazaroni “galgador de parâmetros” – mas também de Collor, o primeiro sacripanta a se apropriar da camisa amarela para colocá-la astuciosamente em contraponto ao “perigo comunista” das bandeiras vermelhas (a ignorância é a alma do negócio na política…) –, nunca torci contra e sempre me deixei envolver pela mística das copas e pelo ufanismo delirante da seleção brasileira como eterna e única representante do melhor futebol do mundo. Pois bem, depois de amargar um humilhante e inesquecível 7 x 1 no lombo, um golpe político comandado por patridiotas fantasiados com a camisa da CBF, e da própria CBF finalmente revelada como um covil de bandidos (uma espécie de PCCBF, quem sabe), franquia de outro covil, este internacional, chamado Fifa, finalmente resolvi tirar meu time de campo. Joguei fora as camisas amarelas e azuis com o escudo maldito, livrei-me da sarna pseudopatriótica – não nasci pra ser pato de ninguém – e decidi simplesmente ser um observador de futebol nesta edição do Mundial. Torcer, só se for por um bom futebol. E que vença o melhor. Mesmo que seja a Argentina…

    Fala, vovô! :-D
    Na real eu nunca comprei totalmente essa patriotada, e como sempre disse aqui, meu batismo de fogo foi a copa de 82, depois da qual nunca mais fui capaz de torcer com paixão pela seleção brasileira (#velhatambém). Mas gosto da Copa porque gosto de futebol e desses eventos que transformam o mundo numa vila ;-), como também já contei aqui.
    Beijo,
    H.

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  2. Como assim não terá Alzirão????? Olha, se alguém precisava de provas concretas para o desanimo com essa copa, ela está aí;. :(

    Pra você ver! Pra mim também, foi a pá de cal. :-(
    Abração pra você.
    Helê

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  3. Como você bem definiu, a associação da camisa é um trauma. Já o Tite, embora acredite no seu potencial como técnico, tem um tom de livro de autoajuda que não consigo digerir. E, mais estranho que isso tudo, sou eu aqui comentando o tema futebol. Será o que o bicho é bissexto? 😘

    Ah, tá valendo, Serginho, copa tem dessas coisas. Já me falaram do excesso de bom-mocismo do Tite, e terei uma copa inteira pra me irritar com ele. Mas veja, a questão é o contraste. Lembra do Dunga, que o repórter dava ‘bom dia’ e ele respondia ‘Por que?’ E aquele senhor colérico, mandando a gente engoli-lo? Só consigo olhar pro Tite, pensar nisso e ficar calma como numa aula de yoga.
    Beijoca, amore!
    H.

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  4. A associação com a camisa tá foda!

    Como eu disse em outro lugar, sequestram a camisa, os direitobas. E esse resgate eu não vou pagar, não.
    Beijo!
    Helê

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  5. Esses 50 anos em quatro nos matrataram. Foram mais difíceis do que os meus últimos 50 em 50 e olha que eu os meus foram beeemmm difíceis. Uma verdade é que pelo logo da copa passada já dava pra ver que não ia dar em muita coisa. E para você termos a noção da real situação atual desse espírito de copa que não baixa nem em sessão mediúnica, é que nem eu acabei de me atualizar com esse seu texto. E aquele 3×0 contra a Áustria me deixou bem cabreira. Que Brasil é aquele que só nos convence no último jogo com a Taça na mão. Me lembro bem em 94 minha mãe quase tendo um infarte por causa da vitória contra a Itália naqueles penaltis apertadinhos. Desde então o coraçãozinho não bate direito…

    Sim, Gi, semrpe achei aquele Chico Xavier do logo da copa passada meio agourento…E esses últimos 50 anos, como a gente diz no subúrbio,
    vouticontá!
    Bom te encontrar aqui, amore!
    bj,
    H.

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  6. Associação da verde-amarela com a massa acéfala. Melhor definição. E os últimos 50 anos foram foda.
    Love you, garota.

    Ser lida e comentada já me alegra. Ser lida nas suas férias é o máximo! :-D
    Beijo, mana.
    Helê

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