Então as manifestações antirracistas ganharam o mundo: o alvo não é mais apenas a polícia dos Estados Unidos, mas o racismo estrutural que molda as relações sociais no mundo ocidental há séculos. Parece que a ficha caiu: esse problema não está nem perto de ser resolvido.
Já houve várias ondas de protestos antes — na verdade, quantas vezes tivemos a sensação de estar de volta a 1968? —, mas desta vez a novidade é ver uma multidão de pessoas pretas e não-pretas marchando juntas, brigando juntas, exigindo juntas que o mundo seja mais igualitário. Tudo isso em meio a uma pandemia de uma doença mortal e tendo como pano de fundo a ascensão de uma extrema direita que ressuscitou discursos excludentes e supremacistas.
Minha mãe era professora de História, e ela costumava dizer que a História anda não em círculos, mas em espiral. A cada volta, a cada vez que parece que estamos retornando ao mesmo ponto, na verdade estamos uma dimensão acima. O que a morte de George Floyd nos ensinou foi que pessoas brancas não podem mais ficar caladas esperando que “eles que lutem”. Meu aprendizado com isso tudo foi: como pessoa de privilégio que sou, tenho a responsabilidade de usar minha voz para falar sobre essas tantas injustiças. E principalmente, preciso usar meus ouvidos para escutar o que os negros têm a dizer, respeitosamente, e mudar o que for preciso, em mim mesma, para ajudar a tornar este mundo melhor para todos e não só para alguns.
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Essas reflexões me fizeram pensar que representatividade também importa. Sou da Comunicação, e para mim é impossível pensar em mudar o mundo se os conteúdos culturais e jornalísticos continuarem os mesmos.
Foi assim que nasceu este post. Eu estava assistindo uma minissérie na Netflix e de repente me veio uma lista praticamente completa de coisas que li e assisti e que tinham como protagonistas mulheres negras. É importante, sabe? Faz diferença. Quanto mais a gente vê mulheres negras como protagonistas, mais natural é a presença delas em lugares de destaque (já escrevi sobre como representação ajuda a criar uma ideia de mudança em outro contexto, mas também vale para essa reflexão aqui).
Então ficam as minhas dicas — que tal aproveitar o pouco tempo livre da quarentena para conhecer obras que não são protagonizadas por homens brancos, mas por mulheres negras? Nem todas são perfeitas, algumas são estilo cinema-é-a-maior-diversão, outras são profundas, ou belas, mas todas irão ajudar a expandir seus horizontes. Vai na fé.
A Vida e a História de Madam C. J. Walker (a minissérie que me fez pensar nesse post).
Lionheart e Harriet (um filme não tem nada a ver com o outro, mas eu escrevi sobre os dois nesse post aqui).
Toda e qualquer coisa sobre a Elza Soares.
O livro Um Defeito de Cor, obrigatório mesmo.
O livro Kindred – Laços de Sangue.
O documentário What Happened, Miss Simone?
O filme Pantera Negra, é claro.
A novela gráfica Aya de Yopougon (há anos procuro as continuações, mas até onde eu sei só dois dos seis volumes da série foram publicados no Brasil).
O livro e o documentário Minha História, de Michelle Obama, a maravilhosa.
O livro e o filme A Cor Púrpura.
E para encerrar essa lista (que está longe de ser definitiva), é preciso citar o Em Pauta que virou Globo Repórter reunindo pela primeira vez na bancada as jornalistas negras Maria Julia Coutinho, Aline Midlej, Zileide Silva, Flavia Oliveira e Lilia Ribeiro, junto com Heraldo Pereira, para debater o racismo no Brasil a partir dos protestos antirracistas nos Estados Unidos. E assim, terminamos voltando ao começo — espero que em espiral.
Agora é sua vez: se puder, deixe nos comentários suas sugestões.
-Monix-
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Acompanho site há algum tempo, acho que é a primeira vez que falo aqui. :)
Minha sugestão é “Estrelas além do tempo”, fala das mulheres negras superando obstáculos para mostrar seu conhecimento superior (a cena em que o personagem do Kevin Costner entrega o giz para a Taraji P. Henson demonstrar um cálculo que só ela sabia… é maravilhoso, fenomenal, impressionante…
A outra sugestão é “Meu nome é Dolemite”, do Eddy Murphy, que conta a história do Rudy Ray Moore, que tinha tanta vontade de ser artista que criou um gênero próprio de comédia e filmes
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Oi Tamara! Muito bem lembrado, inclusive nós duas vimos esse filme juntas no cinema (Estrelas Além do Tempo). O Dolemite não vi ainda, vou conferir. E volte sempre para comentar! A gente adora conhecer quem nos lê :)
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seu blog é meu canal de notícias. acompanho vcs há anos. Sempre dicas maravilhosas, análises lúcidas, bem informadas, certeiras. Continuem, por favor!!
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Oi Marciana, que legal saber disso! A gente continua sim, porque somos teimosas ;)
Volte sempre e comente, nós adoramos :)
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Não sei porque o wordpress não colocou o meu nome ao invés do link para este blog super desatualizado. Editei aqui minha configuração – será que resolve?
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Resolveu! Dicas anotadas :)
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Inclua na sua lista: I Know Why the Caged Bird Sings, da Maya Angelou (Eu sei porque o pássaro canta na gaiola”, é a parte sobre a infância dela, de uma série de autobiografias. Recomendo também um documentário sobre a vida dela (depois de ter lido o livro).
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