Favor

Ele é uma das pessoas mais educadas e gentis que conheço – e aí não exagero nem arredondo. Quem tem o privilégio de privar da companhia de Claudio Luiz o sabe. Fazendo uso dessas qualidades, o Príncipe pediu-me que separasse para ele umas músicas mineiras. Coisa pouca, ele disse, que não me desse trabalho, 3 ou 4 apenas, que servissem de fundo para determinada tarefa, envolvendo mineirices outras.

Pois ele foi tão cuidadoso, insistiu tanto para que eu não tivesse trabalho, que preciso contar aqui o tanto que me ocupou. Por causa desse singelo pedido eu passei boa parte do dia – que tinha tudo pra ser muito insosso, já que me recuperava de uma gripe muito forte – me divertindo: pesquisando, botando a mula pra trabalhar, ouvindo Toninho Horta, Skank, recuperando a única música do Pato Fu que eu gosto, fuçando tanto aqui e ali que cheguei até no Pena Branca e Xavantinho (soube que o primeiro era paulista, mas o segundo é de Uberlândia, uai). Conheci um pouco mais o Uakti (dica vinda de Paris!), reencontrei o povo todo do Clube da Esquina: Lô Borges, Beto Guedes, Milton – que em algum momento ficou meio datado, mas que tem muita coisa bela e atemporal. Nesse caminho, esbarrei numa moça chamada Luciana Souza, belíssima voz brasileira radicada nos EUA, e baixei umas coisas dela pra conhecer melhor depois.

E ainda teve mais. Já à noitinha resolvi colocar um cd do Milton, claro, pra manter o clima. E peguei “O planeta blue na estrada do sol”, que não ouvia há muuuuito tempo. Foi como reencontrar um amigo que não via há anos. Aos primeiros versos de “Veveco, panelas e canelas” eu me emocionei: “Eu não tenho compromisso/eu sou biscateiro/que leva a vida como um rio desce para o mar/fluindo naturalmente como deve ser/não tenho hora de partir nem hora de chegar”. Será que esses versos dataram mesmo ou expirou em mim esse frescor? Mais adiante, uma comovente leitura de “Luar do Sertão” – o sertão mineiro, o de Rosa, daquele céu inacreditável -, e então eu novamente me emocionei, quase às lágrimas, com a interpretação do Milton para Estrada do Sol: “É de manhã/vem o sol mais os pingos da chuva que ontem caiu/ainda estão a brilhar… me dê a mão/ vamos sair pra ver o sol”. Sei não, fosse mais cedo e eu era capaz de sair por aí, sem pensar no que foi que sonhei, que chorei, que sofri.

Por causa desse favor, Cláudio, tive o trabalho que mais me dá prazer, que é mexer com música. E de quebra passei um domingo agradável com a minerada toda aqui, enchendo minha casa de música e poesia – que mais que eu podia querer, sô? Eu é que te agradeço, Claudim, o prazer foi meu.

Helê

PS: De quebra ainda inspirou o post, que eu andava já preocupada com ele mesmo, Cláudio, que me puxa as orelhas quando abuso do copy&paste!