Almoço de domingo

Uma vez, mais de dez anos atrás, fui a São Paulo participar de um seminário e acabei passando o fim de semana na casa de amigos. No domingo fomos almoçar num restaurante que, segundo meu anfitrião, servia o melhor galeto da Vila Madalena, mas era importante que chegássemos cedo, para evitar a fila e uma possível longa espera por uma mesa. Achei aquilo muito estranho, coisa de paulista mesmo. Na época, não me passava pela cabeça que tantas pessoas optassem por ficar horas numa fila para… comer. Domingo, para mim, era dia de almoçar com a família, ou, simplesmente, preparar um prato especial, curtir minha casa, descansar.

Hoje em dia me pego fazendo o mesmo cálculo do meu amigo: se acordo depois das 10 horas, será que devo tomar café da manhã? Não seria melhor esperar até meio-dia e partir logo para o almoço? Ou tomo um café reforçado, vou ao cinema cedo e almoço lá pelas cinco ou seis da tarde? Tudo para evitar as malditas filas dos restaurantes no domingo.

Na minha infância, almoço de domingo era na casa da avó – acho que alternávamos, às vezes almoçávamos com uma e lanchávamos com a outra, e depois vice-versa. Não lembro bem qual era o esquema do rodízio, na verdade, mas tenho certeza que domingo era dia de vó. E de ver os primos, ouvir as conversas dos adultos, levar broncas, rir um bocado, implicar com os menores, comer uma comidinha gostosa e encerrar a semana me sentindo parte de um grupo.

É difícil manter essa rotina hoje em dia. Ninguém quer cozinhar no domingo – eu também não quero. (Às vezes até quero, viu? Mas enfim.) As famílias são confusas, as agendas são complicadas, cada um tem seus interesses e o espírito do tempo não nos permite mais sacrificar os desejos individuais em favor de manter uma tradição.

Não pretendo concluir se estamos em situação melhor ou pior – acho que, como o Salgueiro, é apenas diferente.

-Monix-

 

11 Respostas

  1.         Aqui nos recônditos da zona leste de São Paulo, talvez por ser uma região menos abonada da cidade, é mais difícil que as pessoas saiam para almoçar fora todo fim de semana. O normal é ter o almoço de domingo em casa ou na casa de parentes mesmo. Em casa, somos dois, e temos nosso tradicional almoço (mas sem TV com Silvio Santos, Gugu ou Faustão, porque aí já é demais!).        
    

    Oi, Elis!
    Isso de recuperar os posts do baú é um exercício bacana pra gente, eu não me lembrava desse post. Ao ler, começa a tocar na Radio Cabeça “Diana”, do Boca Livre”Almoço aos domingos/a velha farra/todos vão inventando novos segredos…”
    Nos domingos em que a Juju está comigo, nosso ritual é ir juntas à feira e almoçar peixe, sempre! Novas tradições, sempre família. ;-)
    Bom te ver por aqui!
    Beijoca,
    Helê

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  2. Aqui em Campo Grande o almoço em família ainda é uma instituição bem forte. Acho que nos subúrbios do Rio, em geral, isso ainda se mantém, não sei, mas aqui ainda é muito forte. E aquela coisa mesmo de depois do almoço bater um papo, as crianças brincando, depois um café, acho bem bacana. Beijos.

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  3. Bem, como a minha avó morava com a gente, os almoços de domingo eram em casa mesmo, mas sempre com um cardápio mais caprichado e sobremesa deliciosa… hum…
    Como hoje em dia minha mãe é a primeira a fugir do fogão… rs… não tem pra onde correr.
    E lá vamos nós pro restaurante, ou quem sabe, um gostoso pic nic na Floresta da Tijuca!

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  4. eu nunca penso muito em nada, sou enrolada, sou inconsequente e as coisas acabama contecendo ( ou nao) no seu proprio ritmo…

    se tem fila, vou embora. mas nao me planejo nem me descabelo tantando fazer as coisas funcionarem.

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  5. Lembra essa estrofe de Diana, canção que o Boca Livre gravou :

    “Almoço aos domingos
    A velha farra
    Todos vão inventando
    Novos segredos”

    Eu não tenho saudades dos almoços de domingo. Mas ando a inventar novas tradições com a pequena no café da manhã dominical…
    Helê

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  6. Vc tem toda a razão, Monix.
    Minha infância tbém foi assim, mas a dos meus filhos não, hehehehe. Por motivos óbvios (tripla jornada de trabalho é a catapulta para me mandar pra longe do fogão aos domingos), tento sempre que dá, almoçar fora aos domigos.
    Mas o mais engraçado, foi que li todo o post achando e “enxergando” a Helê e qual não foi a minha surpresa qdo vi que não era? hahahaha
    Vcs estão “cafundindo” a minha cabeça.
    Lindo post…

    Beijos

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  7. Esse diferente de hoje, pra mim, é pior.
    E o doido nisso tudo é que eu também me lembro de achar, lá pela época da adolescência, que essa tradição era meio uma obrigação chata. Naqueles tempos em que desgrudar dos pais, ficar com os amigos e ser imprevisível era tudo que se queria.
    Mas me recordo muito mais de tempos de alegria, do sentido de união, de pertencimento. Muito bom o estar em casa e conciliar nesse espaço idades diversas, interesses e visões de mundo diversos, em torno de uma origem e um sentimento comuns. O oposto exato do individualismo.
    Beijo.

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  8. Sem dúvida estamos em situação pior. Você descreveu à perfeição a delícia da reunião dominical na casa da avó, e não viver isso hoje em dia é um passo atrás. Até porque não deveria ser tão difícil assim conciliar e tentar resgatar essa tradição. Mesmo que nem todo mundo possa ir sempre, e mesmo que se tenha de comprar a comida pronta para levar, o poder simbólico da reunião familiar é enorme, e não deve ser desprezado.
    (Estou num momento família…)
    Beijos.

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  9. pois é, querida. Na minha família, que sempre foi confusa ao quadrado mas sempre gostou de tar junta, a gente tinha almoços. Não necessariamente aos domingos. Com certeza nunca na hora do almoço. E muitas muitas vezes no formato “família ampliada”, com amigos queridos que eram sempre muito bem-vindos.
    Hoje o fim de semana é muito na rua – mas eu tenho tido vontade de cozinhar. Mesmo que não esteja todo mundo em casa: cozinhar no domingo é gostoso. Quando eu morava com meu irmão,teve um período em que sábado é q era dia: a gente ia à feira, comprava um monte de coisa legal e chamava galera. Bom dia,tb.
    Beijo! (a quando nosso encontro mesmo?)….

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    • Nem me fala, minha vida está cada vez mais complicada, tenho quatro dívidas enormes com amigos queridos para “pagar”, uma delas é a sua! Vou conversar com a Helê para tentar chegar numa agenda, pelo menos agora acertamos as agendas das crianças, o que facilita muito…

      Beijos

      Monix

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