Off-carnaval

Era pra ser um post de fim de ano, chamado “Meninos, eu li”, com uma seleção de coisas bacanas que eu li a serviço, mas não rolou. Então fica sendo uma lista de indicações para o povo que começa a pipocar no primeiro skindô que ouve e foge correndo do carnaval, voltando apenas quando o ano começa de fato.  Como foi uma leitura profissional, nem sempre foi completa – os prazos, os prazos! – mas esses livros se destacaram entre muitos (nunca antes na história desse país eu li tanto quando no ano passado!).

Histórias das minhas canções – Li o volume de Paulo César Pinheiro e foi dos releases que fiz com mais prazer. Adoro essas intimidades musicais, os bastidores da música, a mítica em torno dessa atividade mística e inalcançável pra mim, que é criar canções.

Quantas madrugadas tem a noite, Ondjaki – Ao ler lembrei de um grande amigo que me apresentou aos autores africanos de língua portuguesa, como Pepetela e Mia Couto, em crônicas do jornal português “O Público”. Acho o sotaque do português africano irresistível, e fiquei muito curiosa com esse angolano radicado em Santa Teresa.

O óbvio que ignoramos – não me julguem, como se diz no twitter, que esse vai na linha da autoajuda, mas acendeu umas luzinhas interessantes aqui. Como por exemplo, o fato de que nós fazemos as crianças se dedicarem mais às matérias em que elas têm dificuldade, deixando de desenvolver aptidões e habilidades nas quais elas demonstram prazer e fluência. A pensar.

Cicatrizes, David Small – Sensacional, simplesmente. Mesmo não sendo conhecedora de quadrinhos tenho certeza que é material de altíssima qualidade.  Fiquei muito impressionada,  tanto com o traço quanto com a história autobiográfica. Como disse um crítico, cinema disfarçado de livro.

O estranho mundo de Zofia – da linha literatura fantástica, que nem é a minha praia, e por isso mesmo me impressionou: inesperadamente envolvente e instigante. Também A garota dos pés de vidro me deixou curiosa para saber como se desenvolve a história de amor entre um fotógrafo recluso e uma mulher que precisa correr contra o tempo enquanto seu corpo transforma-se em vidro.

Tudo que é sólido pode derreter – aqui a protagonista é uma adolescente como muitas que conhecemos, como a que algumas de nós já fomos. Do tipo que gosta das aulas de Português e estabelece paralelos divertidos entre sua vida – contemporânea, como direito a todos os gadgets e mídias modernas assim como às eternas inquietações da idade – e os temas que abordados por autores como Gil Vicente, Gregório de Mattos, Machado de Assis. Um cross reading (existe isso?) que eu achei inteligente e bem feito, capaz de quebrar resistências juvenis à literatura.

Helê